Entenda o que é o papilomavírus humano, como ele afeta a saúde e a proteção que a vacina contra HPV oferece.
Como prevenir o câncer? Esta é uma das maiores questões que a Ciência e a Medicina buscam elucidar. Apesar de uma resposta geral ainda não existir, hoje já se sabe que, de fato, existem algumas maneiras bastante eficientes de reduzir as probabilidades do aparecimento de certos tipos de câncer. Novos dados mostram o quão eficientes elas podem ser.
O HPV (papilomavírus humano) é um termo que engloba mais de 200 tipos de vírus diferentes, de uma mesma ‘família’. Extremamente comuns, eles podem provocar doenças na região genital de homens e mulheres. Mais do que isso, a infecção por estes vírus está diretamente associada a diversos tipos de câncer, especialmente o câncer de colo de útero. Felizmente, já existe há muitos anos a vacinação contra o HPV, altamente eficaz. Um novo estudo, realizado nos Estados Unidos, trouxe novos dados sobre os efeitos protetores dessa vacina.
O HPV é muito comum. Estudos apontam que 80% das pessoas sexualmente ativas e que não foram vacinadas serão infectadas pelo vírus em algum momento da vida. Na maioria dos casos, o sistema imune será capaz de combater e eliminar a ameaça – o problema é quando o vírus ganha esse combate, com consequências potencialmente perigosas ao organismo.
Tipos de câncer relacionados à infecção por HPV
- Câncer cervical (90% dos casos são causados pelo HPV)
- Câncer do ânus (90% dos casos são relacionados ao HPV)
- Câncer de vagina (75% dos casos são relacionados ao HPV)
- Câncer de vulva (cerca de 70% dos casos são relacionados ao HPV)
- Câncer de pênis (mais de 60% dos casos são relacionados ao HPV)
- Câncer da orofaringe (também conhecidos como ‘câncer de pescoço’)
A proteção que a vacina contra o HPV fornece
O novo estudo utilizou um enorme banco de dados de saúde dos EUA, chamado Us TriNetX, para comparar mais de 760 mil homens vacinados e não-vacinados contra o HPV, assim como mais de 945 mil mulheres.
Os resultados mostram o poder protetor da vacinação:
ENTRE OS HOMENS: quem foi vacinado contra o HPV…
➥ tinha riscos 54% menores de desenvolver qualquer tipo de câncer relacionado ao vírus;
➥ tinha 56% menos chances de ter câncer de cabeça ou pescoço.
ENTRE AS MULHERES: quem foi vacinada contra o HPV…
➥ teve riscos 27% menores de qualquer tipo de câncer relacionado ao HPV;
➥ teve riscos 54% menores de câncer cervical.
Além disso, os dados mostraram que, em comparação com as não-vacinadas, as mulheres que receberam a vacina tiveram chances reduzidas de desenvolver alguns problemas ginecológicos importantes, como lesões intraepiteliais escamosas de alto grau, carcinoma cervical in situ e ter achados anormais de Papanicolau.
O que o HPV provoca?
Além de aumentar os riscos para diversos tipos de câncer, o HPV pode gerar feridas e alterações na região cutânea genital. Sintoma comum de infecção é o aparecimento de verrugas na região genital ou anal, tanto em homens quanto em mulheres.
Essas verrugas podem começar pequenas, mas aumentar de tamanho ao longo de semanas e meses caso não haja tratamento, até mesmo se espalhando interna e externamente. No começo, podem lembrar espinhas ou pequenas bolinhas, mas logo assumem um aspecto de ‘couve-flor’, com formato característico e coloração esbranquiçada. Sua presença pode aumentar o risco posterior de surgimento de outros problemas correlacionados ao vírus, como o câncer.
No geral, os pacientes são assintomáticos, mas há quem sinta coceira ou desconforto na região afetada pelas verrugas.
Como é o tratamento?
O tratamento depende da intensidade da infecção. É comum ser realizada a remoção das verrugas (via técnicas diversas, como uso de substâncias cáusticas, crioterapia, cauterização, uso de laser ou cirurgia) e, nos casos mais contidos, tratamentos tópicos.
Vale notar que o reaparecimento das verrugas é muito comum. Por isso mesmo, proteger-se do vírus antes que ele possa infectar o corpo é a estratégia ideal de combate.
Como funciona a vacinação contra o HPV?
Como vimos acima, existem mais de 200 tipos diferentes do vírus HPV. Dentre eles, alguns são mais ou menos perigosos com relação ao aparecimento das verrugas ou às probabilidades de câncer. Pesquisas médicas já apontaram quais são eles – e vacinas foram desenvolvidas especificamente para combatê-los.
Cerca de 70% das neoplasias cervicais e uma porcentagem considerável de cânceres de vulva, vagina, pênis, ânus e orofaringe estão relacionadas aos tipos 16 e 18 do vírus HPV. A vacina tetravalente fornece proteção contra os subtipos 16 e 18 vistos acima, assim como os tipos 6 e 11 – estes relacionados a mais de 90% dos casos de verrugas urogenitais. A vacina nonavalente (disponível na rede privada) protege o corpo contra 05 tipos adicionais (31, 33, 45, 52 e 58).
Quem já tomou as vacinas bi ou tetravalentes e deseja proteção adicional poderá se vacinar também com a 9-valente.
Como é o esquema vacinal para HPV?
O HPV é um vírus facilmente transmitido pelo contato sexual. A vacina é mais efetiva caso a pessoa ainda não tenha entrado em contato com o vírus (apesar de também ajudar a proteger o corpo mesmo em pessoas que já foram infectadas). Por isso, indica-se iniciar a vacinação cedo na vida, antes que os encontros sexuais ocorram.
O HPV pode ser transmitido pelo contato com a pele. Por isso, considera-se que apenas o uso de preservativos durante uma relação não proteja 100% os envolvidos. Deve-se sempre conversar com o(a) parceiro(a) sobre possível infecção pelo vírus e buscar orientação médica.
Aqui no Brasil, o esquema vacinal do Ministério da Saúde indica vacinação contra HPV para meninas e meninos de 9 a 14 anos. Outros grupos etários podem dispor das vacinas em serviços privados, se indicado por seus médicos.
De acordo com o registro na Anvisa, a vacina tetravalente é aprovada para mulheres entre 09 a 45 anos e homens entre0 9 e 26 anos, e a vacina nonavalente para meninas e mulheres de 09 a 45 anos de idade e meninos e homens de 09 a 45 anos de idade .
A vacina age melhor quando administrada antes de qualquer contato com o HPV. Adultos ou mesmo pessoas com mais de 14 anos podem se beneficiar da vacinação se não tiverem sido infectados anteriormente ou atualmente com todos os tipos de HPV cobertos pela vacina. Para pessoas que já entraram em contato com o vírus a efetividade da vacina é menor. Todavia, ela ainda pode fornecer alguma proteção. Converse com seu médico/médica sobre a necessidade e qual o tipo ideal de vacina para você.
Cobertura vacinal precisa melhorar
Infelizmente, meninos e meninas aqui no Brasil não estão se vacinando como deveriam contra esse perigoso vírus. Estima-se que apenas 40% das meninas tomaram a segunda dose da vacina, por exemplo.
Dados do Ministério da Saúde apontam, inclusive, que a cobertura vacinal tem regredido nos últimos anos. Em 2019, 87% das meninas entre 09 e 14 anos receberam a 1ª dose da vacina, número que caiu para 75% em 2022. Em 2019, 61% dos meninos haviam se vacinado; em 2022, apenas 52%.
E não é só no Brasil que os números estão aquém do ideal. Nos Estados Unidos, por exemplo, dados do National Cancer Institute de 2022 mostram que apenas 58% dos adolescentes de 13 a 15 anos receberam mais de uma dose da vacina contra o HPV.
O sonho de uma “vacina contra o câncer”
Uma “vacina contra o câncer” é um dos “sonhos” tecnológicos mais requisitados pelas pessoas. A vacina contra o HPV já funciona exatamente nesse sentido: trata-se de uma vacina que previne diversos tipo de câncer associados ao HPV, potencialmente perigosos à saúde, e especialmente o câncer de colo de útero. Comprovadamente eficiente, ela protege o organismo também contra o aparecimento das verrugas genitais.
O mais importante é aproveitar seus benefícios no momento correto. Caso tenha alguém na família na faixa etária indicada para vacinação, estimule-a a se vacinar contra o HPV. Os benefícios serão sentidos por toda a vida, e podem garantir uma dose extra e tão importante de saúde.
Para saber mais
- Novo estudo mencionado neste texto: Jefferson DeKloe et al., Effects of HPV vaccination on the development of HPV-related cancers: A retrospective analysis of a United States-based cohort. JCO 42, 10507-10507(2024). DOI:10.1200/JCO.2024.42.16_suppl.10507
- Centers for Disease Control and Prevention: Human papillomavirus (HPV). Accessed July 6, 2022.
- HPV and Cancer. National Cancer Institute. https://www.cancer.gov/about-cancer/causes-prevention/risk/infectious-agents/hpv-and-cancer
- Queda da cobertura vacinal contra o HPV representa risco de aumento de casos de cânceres evitáveis no Brasil. Ministério da Saúde. https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2023/fevereiro/queda-da-cobertura-vacinal-contra-o-hpv-representa-risco-de-aumento-de-casos-de-canceres-evitaveis-no-brasil
